Um “homeopata” muda de opinião

Edzard Ernst nasceu na Alemanha e foi o primeiro professor de Medicina alternativa e complementar na Universidade de Exeter, no Reino Unido.

Para além da sua educação em medicina na Alemanha onde completou o seus doutoramentos, recebeu também formação em acupunctura, herbalismo, homeopatia, entre outras modalidades na terapêutica dita não convencional. Embora nunca se tenha registado oficialmente como homeopata, Ernst começou a sua carreira num hospital homeopático em Munique, Alemanha.

Na Universidade de Exeter, na qual já não trabalha por estar reformado, Ernst fez investigação na Medicina Alternativa e Complementar, dando ênfase à eficácia e segurança. Publicou cerca de 700 estudos em jornais científicos, a maioria revisões sistemáticas e meta-análises de estudos clínicos. Deste conjunto, Ernst declarou que apenas 5% da medicina alternativa é suportada por evidência científica. [1]

Recentemente, Ernst publicou um artigo de opinião no Jornal britânico The Guardian com o título “Porque mudei de ideias quanto à homeopatia”

Nele, Edzard Ernst menciona como ficou impressionado com os aparentes benefícios da homeopatia para o paciente durante o seu trabalho clínico há mais de 30 anos. A contradição entre esses efeitos e a implausibilidade da homeopatia podem, no entanto, ser explicadas através da compreensão da complexidade das respostas terapêuticas. Perceber como o ser humano está sujeito a erros de percepção e a falácias de pensamento lógico, é também um factor importante. [2]

Daí a importância de conduzir estudos clínicos que consigam evitar estes erros e para que haja realmente uma observação objectiva.

Existem cerca de 200 estudos clínicos sobre a homeopatia. Com um número tão grande de estudos e com uma qualidade tão díspar entre eles, torna-se claro porque razão há sempre por onde escolher. Assim, é importante que todos estes estudos sejam avaliados segundo o critério científico, através de uma revisão sistemática. E daquelas que foram publicadas são na maioria unânimes na conclusão de que os remédios homeopáticos não são diferentes de um placebo.

O artigo de Ernst é todo ele uma lição como nos podemos enganar pelos aparentes benefícios de um tratamento, para além de uma chamada de atenção para questões éticas que estão inerentemente associadas com o acto de dar placebos em vez de tratamentos eficazes quando eles existem.

Fontes:

[1] Wikipedia

[2] The Guardian

Publicado em simultâneo na página Comcept

About L Abrantes

Bachelor degree in Tourism, Degree in History. Currently pursuing a master's degree on History and Philosophy of Science Co-Found and collaborator at COMCEPT - Comunidade céptica portuguesa. http://comcept.org
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9 Responses to Um “homeopata” muda de opinião

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  2. Carla says:

    Se não dão crédito aos Homeopatas em geral porque é que dão crédito a um que mudou de opinião?

    • Marco Filipe says:

      Olá Carla,
      Aqui dá-se crédito é a estudos científicos bem executados e análises devidamente fundamentadas. Ouvir pessoas apenas por quem elas são ou pelo fazem, não me parece uma forma sensata de avaliar a veracidade de afirmações extraordinárias.

    • L Abrantes says:

      É exactamente por ele ter mudado de opinião que lhe damos crédito!

  3. D. Barbosa says:

    O crédito não é dado por ele ter mudado de opinião, é dado pelos estudos que apresenta.
    Se antes diziam que esses estudos tinham um viés por serem feitos por não-homeopatas, agora já não podem afirmar isso!
    Mesmo um homeopata, quando confrontado com a evidência científica e sendo honesto, muda de opinião.
    Porque a Ciência não depende de opiniões, guia-se por factos determinados por um método específico; que tenta por todos os meios, obviar as motivações e vieses de cada um. Isto porque os cientistas também são humanos.

  4. Carla says:

    Ou será porque a nova opinião dele é mais em linha com a vossa?

    • L Abrantes says:

      Ver resposta nos comentários anteriores.

    • D. Barbosa says:

      Cara Carla, penso que já lhe expliquei porque é que é dado crédito aos estudos publicados em revistas científicas de alta qualidade por este e outros autores. Mas aqui vai de novo: deve-se à qualidade da Ciência, a nada mais.
      Como é que se mede a qualidade da Ciência? Entre outras coisas, pela isençao e qualidade das evidências apresentadas. No caso específico da avaliaçao de uma terapia são fundamentais três coisas:
      1) um estudo “randomizado” (com uma distribuição aleatória dos participantes) e com uma boa amostra (para evitar efeitos aleatórios e evidência anedótica)
      2) um estudo cego (nem o investigador nem os sujeitos sabem que tipo de tratamento estão avaliar – tratamento ou controlo)
      3) um efeito estatisticamente significativo que revele a diferença entre um tratamento e o controlo (ou placebo, se preferir).

      Quando reunidas estas três condições, nenhum estudo científico apresenta efeitos benéficos para os preparados homeopáticos.
      Nem mesmo quando se analisam muitos estudos ao mesmo tempo (uma meta-análise), como muitas vezes faz o Prof. Ernst.

      Logo, a homeopatia é uma fraude anti-científica.

      Não precisa de se fiar de mim. Faça uma busca numa base de dados de bibliografia científica, ou directamente na Cochrane Review (por ex.) e chegará às mesmas conclusões.

  5. L Abrantes says:

    O blog 10:23 Portugal encontra-se neste momento encerrado. Sobre este ou outros assuntos, aconselhamos a visita ao site http://comcept.org/

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